Operação da PF descobre corrupção em asfaltamento; obras foram bancadas com emendas parlamentares
A Polícia Federal (PF) descobriu um
esquema de corrupção em obras de asfaltamento pelo Brasil, que totalizam quase
R$ 50 milhões em dinheiro que veio de emendas parlamentares. Detalhes da
investigação foram revelados pelo programa Fantástico, da TV Globo. Imagens,
relatórios, gravações e conversas por telefone detalham como a quadrilha
operava. Nessa operação, a PF conseguiu apreender 23 carros de luxo, três
iates, seis imóveis, joias e mais de R$ 3 milhões em espécie.
Segundo as apurações, 17 empresários,
servidores públicos e vereadores são acusados de participar da organização
criminosa que movimentou pelo menos R$ 1 bilhão. Na apreensão foram encontrados
documentos que mostravam que o grupo criminoso acumulava mais de R$ 820 milhões
em contratos em pelo menos 14 Estados.
Como mostrou o Estadão, a propina era
transportada por avião. Segundo investigação da PF, um integrante da quadrilha
negociava em Brasília recursos de emendas. O dinheiro repassado a municípios
era desviado por meio de obras superfaturadas.
A reportagem do Fantástico mostrou o
caso de Campo Formoso (BA), cidade do líder do União Brasil na Câmara dos
Deputados, Elmar Nascimento (BA) e que tem como prefeito Elmo Nascimento
(União), Elmo Nascimento, seu irmão. A PF informou que ainda não identificou
parlamentares envolvidos com o esquema. A prefeitura de Campo Formoso declarou
que vai apurar se houve desvio em obra de asfaltamento em bairros da cidade.
Segundo a PF, o esquema envolvia o
envio das emendas parlamentares para Estados, municípios e demais autarquias. A
prefeitura da cidade então usa o dinheiro para abrir licitações favorecidas
pelo grupo criminoso. Funcionários públicos que receberam propinas, então,
passam informações privilegiados para favorecer a empresa.
Imagens obtidas pelo Fantástico
mostram que agentes da Polícia Federal monitoraram o embarque de dois homens no
aeroporto de Salvador — o empresário Alex Rezende Parente, sócio da Allpha
Pavimentações e Serviços de Construção Limitada, e Lucas Maciel Lobão Vieira —
que usaram um jatinho para ir a Brasília.
Na capital federal, os agentes
apreenderam R$ 35 mil em espécie com Vieira, que alegou que o recurso era usado
para gastos pessoais na cidade. Na outra mala, Parente escondia R$ 1,5 milhão.
Segundo ele, o valor seria usado para comprar máquinas agrícolas. Ele não
apresentou provas.
Além disso, os policiais encontraram
centenas de documentos e uma planilha que mostrava que esse grupo acumulava
mais de R$ 820 milhões em contratos em pelo menos 14 Estados. Num áudio
revelado pelo Fantástico, dois funcionários de Parente, Geraldo Guedes de
Santana Filho e Iuri dos Santos Bezerra, um deles disse que haveria uma “caça
às bruxas” e afirmou que havia três trituradores “em tempo real” em operação
para destruir documentos.
Do grupo identificado, Itallo Moreira
de Almeida, funcionário do governo de Tocantins, está foragido. Todos os outros
foram presos. Um dos envolvidos no esquema, segundo a PF, é o ex-secretário de
governo do município baiano de Campo Formoso e vereador eleito na mesma cidade,
Francisco Nascimento (União).
Como mostrou o Estadão, deputados
podem realizar “emendas Pix”, recurso sem transparência, que não tem finalidade
definida que cai no cofre dos Estados e municípios antes mesmo de realizar
qualquer licitação. Já foram mais de R$ 20 bilhões em emendas dessa categoria
enviados por deputados. O tema foi ao Supremo Tribunal Federal (STF), que
bloqueou o recurso de emendas pela falta de transparência, e ainda é alvo de
controvérsia enquanto parlamentares tentam abrir janelas para manter a falta de
transparência.
Procurados pelo Fantástico, o prefeito
de Campo Formoso, Elmo Nascimento, afirmou que a prefeitura “conduz suas
contratações dentro das melhores práticas” e determinou uma investigação
interna para apurar os “supostos ilícitos”.
A defesa de Alex e Fábio Rezende
Parente, e também de Lucas Maciel Lobão Vieira, alega que não teve acesso pleno
aos autos e por isso não irá se manifestar sobre a operação. Já a defesa de
Geraldo Guedes Santana Filho e de Iuri dos Santos Bezerra negam a participação
deles no esquema. A defesa do vereador Francisco Nascimento optou por não se
posicionar neste no momento. A defesa de Itallo Moreira de Almeida não retornou
os pedidos de posicionamento.
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