MPF se reúne com comunidades quilombolas no Rio Grande do Norte
O
Ministério Público Federal (MPF) realizou, na quinta-feira (27), reunião com
comunidades quilombolas do Rio Grande do Norte. A iniciativa visa a aproximar a
instituição das demandas da sociedade. Desde maio, o órgão tem promovido encontros
com representantes de movimentos sociais no estado, conforme recomendação do
Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). A reunião contou ainda com
professores da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN).
Entre
os assuntos que serão acompanhados pelo MPF está a suposta instalação de
sistema de energia solar em território quilombola sem cumprimento do requisito
de consulta prévia à comunidade, além da dificuldade para conseguir
caminhão-pipa para fornecimento de água. O órgão vai apurar ainda indícios de
abuso de autoridade policial, tortura e criminalização da pobreza.
O
procurador da República Emanuel Ferreira afirmou estar impactado com os relatos
ouvidos durante o encontro, realizado por videoconferência. "São muitas
questões para serem analisadas e investigadas", afirmou. Segundo ele, as
demandas serão encaminhadas aos procuradores que atuam nos respectivos
municípios onde vivem as comunidades quilombolas para providências.
"Esperamos que novos tempos surjam. Minha luta é para que essas pautas
estejam cada vez mais visíveis: que tenhamos sempre um olho na instituição e
outro nos movimentos sociais", defendeu.
Na
reunião, Emanuel Ferreira ressaltou que o MPF é instituição permanente e
essencial para a proteção de direitos coletivos, dentre eles a igualdade e a
busca por não discriminação, bem como a preservação a cultura étnicas-raciais.
Na Procuradoria da República em Mossoró (RN), tramita procedimento que analisa
a criação de disciplina obrigatória nos cursos de Licenciatura da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa) para promoção da cultura africana.
Emanuel
Ferreira destacou o contentamento dos participantes ao serem ouvidos por uma
instituição que se lembra dos quilombolas não somente em âmbito judicial. “A
vocação para proteção dos Direitos Humanos de grupos historicamente
discriminados deve ser aprofundada cada vez mais na instituição, ainda mais
tendo em vista os graves relatos em torno de violência policial, fruto de
reiterada omissão estatal, agravada nos últimos anos”, concluiu o procurador.
Comunicações
mais claras – Todos os participantes da reunião solicitaram visitas do MPF
às comunidades quilombolas. Por isso, Emanuel Ferreira vai sugerir aos
procuradores da República que atuam nos respectivos municípios que promovam
reuniões presenciais com a população.
Os
procuradores também serão informados sobre o pedido de simplificação da
linguagem das comunicações oficiais encaminhadas às comunidades quilombolas.
Segundo os participantes, a linguagem técnica dificulta o entendimento das
mensagens e a resposta no prazo solicitado, além de causar temor. “Como se
trata de grupo historicamente perseguido e intimidado pelo Poder Público
brasileiro, especialmente pelos órgãos de persecução penal, o pedido é
importante e merece reflexão de todos os membros do MPF”, reiterou Emanuel
Ferreira. As comunidades sugeriram ainda a realização de cursos de capacitação
sobre o Ministério Público e sua função institucional.
Recomendação
do CNMP – As reuniões seguem recomendação do CNMP que sugere aos ramos do
Ministério Público que promovam encontros com movimentos sociais. As reuniões
devem aproximar os membros das demandas da sociedade; identificar ameaças aos
direitos fundamentais; contribuir para o aprofundamento da democracia e da
participação social; capacitar lideranças sobre os serviços prestados pelo
órgão na defesa dos direitos, e estabelecer metas.
O
CNMP define movimento social como toda manifestação coletiva e organizada da
sociedade civil para fins lícitos, com o fim de obter visibilidade e conferir
voz política a demandas objetivamente identificáveis, como combate ao racismo,
defesa dos direitos de minorias, reforma agrária e proteção a direitos
fundamentais, como saúde, moradia e educação, entre outros.
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