Educadores dizem que novo ensino médio amplia desigualdades
O
novo ensino médio, que começou a ser implantado no país no ano passado, tem
ampliado as desigualdades e prejudicado principalmente as pessoas mais pobres e
vulneráveis. Para especialistas em educação ouvidos pela Agência Brasil,
a situação tende a ser mais grave nas escolas públicas.
Não
são apenas educadores e especialistas que têm reclamado da reforma. Nesta
quarta-feira (19), estudantes de todo o país prometem ocupar as ruas para
pedir que o Ministério da Educação (MEC) revogue o novo sistema.
Na
semana passada, durante seminário realizado na Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo (USP), uma professora subiu ao palco para contar sua
experiência com o novo ensino médio. Formada em Ciências Sociais, ela se viu obrigada,
após a lei de 2017 que mudou o ensino médio no país, a ter que ministrar oito
diferentes itinerários formativos (conjunto de disciplinas, projetos, oficinas,
núcleos de estudo que os estudantes poderão escolher no ensino médio).
“Tenho
28 turmas do ensino médio e 34 aulas por semana. Essa é a realidade hoje da
reforma do ensino médio no estado de São Paulo”, disse ela durante o
evento. “O que temos observado é que os alunos que estão se formando não foram
nem para o mercado de trabalho e nem para a universidade. Boa parte deles tem
ido trabalhar como jovens aprendizes. Depois disso, tiveram que ir para outra
área profissional”, afirmou.
"Temos
uma reforma de ensino médio em curso que aumenta a desigualdade e produz
desigualdades. E isso é uma coisa gravíssima", disse Fernando Cássio,
doutor em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP) e professor da
Universidade Federal do ABC (UFABC). Ele também integra a Rede Escola Pública e
Universidade (Repu) e o comitê diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à
Educação.
Segundo
Cássio, um dos elementos que torna essa reforma ainda mais desigual diz
respeito à aplicação dos itinerários formativos. Com problemas que vão desde a
má remuneração dos professores, passando por más condições de trabalho, falta
de concursos públicos, problemas de infraestrutura e falta de investimentos e
de formação dos docentes, as escolas públicas acabam sendo as mais prejudicadas
com essa obrigação de implementação dos itinerários formativos. Principalmente
se essas escolas estão localizadas em cidades menores ou em
bairros periféricos. “
A professora
de matemática Elenira Vilela, que também é coordenadora-geral
do Sindicato Nacional dos Servidores Federais da Educação Básica,
Profissional e Tecnológica (Sinasefe), concorda. Para ela, o novo ensino
médio “aprofunda barbaramente as desigualdades”.
“Existe
o mito de que os jovens vão poder escolher itinerários formativos dos quais
eles sejam mais próximos. Mas, na realidade, metade dos municípios do Brasil
tem uma única escola de ensino médio que mal dá conta de oferecer uma formação
padrão para todo mundo. Então, essas escolas não vão conseguir ou não estão
conseguindo oferecer os diversos itinerários formativos”.
“Os
mais pobres não vão ter acesso. Quem estuda em escolas particulares
ou federais, ou quem tem família com mais condições de acessar museus,
escolas e viagens, vai ter formação mais ampla. Os mais pobres, os que
vivem nas periferias e os que estudam em escolas do interior terão formação
mais restrita e piorada do que se tinha antes, de conhecimento geral. Além
disso, não vão fortalecer as possibilidades do mundo do trabalho como se tem
propagado. Existem lugares, por exemplo, em que estão sorteando qual o
itinerário formativo que o estudante vai fazer. Isso não vai criar uma relação
melhor dele com o aprendizado”, observou.
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