Municípios multiplicam procedimentos para justificar verbas federais recebidas do “orçamento secreto”
O site Agora RN destaca com propriedade que o Ministério Público Federal (MPF) informou nesta terça-feira 25 que determinou o
envio aos órgãos responsáveis de um relatório que confronta as verbas federais
recebidas pelos municípios do Rio Grande do Norte – oriundas de emendas
parlamentares, inclusive do recente “orçamento secreto” – com o número de
procedimentos alegadamente efetuados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nessas
cidades, no período de janeiro de 2015 a julho de 2022.
O
relatório foi produzido pelo Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde
(Lais/UFRN), teve como fontes órgãos e plataformas oficiais e tentou responder
a duas questões básicas: primeiro se há algum procedimento de saúde, dentre os
ofertados pelo SUS, cuja quantidade executada seja incompatível com a população
do município e, segundo, se os municípios onde foram registradas essas
ocorrências apresentam também alguma correlação histórica com os repasses de
emendas parlamentares recebidas.
Em
relação à primeira questão, o documento destaca casos como os do município de
Olho D’água do Borges, onde registrou-se a aferição de pressão arterial
equivalente a 228 vezes em cada habitante no ano de 2020. Em Fernando Pedroza
realizou-se um número de “dispensações de medicamentos” (entrega do remédio ao
paciente) 226 vezes superior ao da população, no ano de 2017. Já em Antônio
Martins houve proporcionalmente 120 testes de glicemia para cada habitante, ao
longo apenas dos sete primeiros meses de 2022 (o relatório traz dados até julho
deste ano), “o que equivale a realizar o teste a cada 42 horas em toda a
população”.
Nesses
mesmos sete meses, em Carnaúba dos Dantas, foram registrados o equivalente a
108 “atendimentos de urgência em atenção primária com remoção” por morador. Já
em 2017, Riacho de Santana realizou 117 exames de urina por habitante.
Segundo
o procurador da República Fernando Rocha, que acompanha o trabalho do grupo de
cooperação, o levantamento alerta para a necessidade de mais investigações,
tanto do MPF quanto por parte de outros órgãos de controle, até se concluir
sobre a possibilidade, ou não, da prática de crimes contra os cofres públicos.
“Não podemos ainda apontar responsáveis, nem especificar as irregularidades,
mas claramente os números demonstram existir algo muito, muito errado”,
enfatiza.
O detalhe
O
relatório é fruto de um acordo de cooperação técnica firmado entre o MPF, a
UFRN e o Departamento Nacional de Auditoria do SUS e aponta vários casos de
prefeituras que registraram a realização de procedimentos que alcançaram um
número (em apenas um ano) dezenas e até centenas de vezes maior que o de
habitantes. Os dados podem refletir desde erros nos registros, até manipulações
cujo objetivo pode ter sido “criar procedimentos” para justificar o envio e o
desvio das verbas federais.
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