R$ 24 milhões: os valores que assustam no Mossoró cidade Junina para um município que se encontrava em calamidade financeira

 

Quando assumiu a Prefeitura de Mossoró, há pouco mais de 15 meses, o prefeito Allyson Bezerra (Solidariedade) decretou calamidade financeira, justificando, em meio à pandemia da Covid-19, que o município estava quebrado. Disse, sem justificar de forma transparente, que havia uma dívida acumulada de quase R$ 1 bilhão.


A calamidade financeira causou espanto, pois não havia cenário que justificasse o decreto. Todos os serviços estavam funcionando, os salários praticamente em dia, Mossoró vista como referência de enfrentamento à pandemia, além de mais de R$ 100 milhões em conta para investimentos – recursos carimbados pelo Finisa, contratados junto à Caixa Econômica Federal, e de emendas parlamentares do mandato do deputado federal Beto Rosado (Progressistas).


Mesmo assim, por meio de sua estrutura midiática, o gestor municipal continuou repetindo a história da calamidade financeira e, ao mesmo tempo, assinando contratos milionários com dispensa de licitação, alguns, inclusive, sob investigação do Ministério Público Estadual (MPRN).


Agora, o prefeito está diante da verdade dos números desafiando o próprio discurso da calamidade financeira. A gestão prepara-se para realizar o Mossoró Cidade Junina mais caro da história, com contratos milionários e cotação de serviços de estrutura que ultrapassam a casa dos R$ 24 milhões. Para uma Prefeitura “quebrada” ou em calamidade financeira, o alto custo do evento é, no mínimo, uma contradição. Além disso, os valores anunciados pela própria gestão, até aqui, provocam o Ministério Público a colocar uma lupa criteriosa no processo.


Só com as atrações musicais anunciadas oficialmente pelo município, o gasto será de R$ 3.670 milhões, distribuído a cantores, cantoras e bandas. Os cantores Wesley Safadão e Xand Avião, juntos, vão levar R$ 1 milhão, sendo R$ 600 mil para Safadão e R$ 400 mil para Aviões (veja matéria abaixo).


Chama ainda mais atenção é a previsão de despesas com estrutura e contratação de serviços que têm cotações somadas em mais de R$ 24 milhões. Os pregões ainda não foram realizados, o que deve ocorrer nos próximos dias.


A reportagem do JORNAL DE FATO teve acesso aos dois memorandos de cotação dos lotes para estrutura e contratação de serviços como transportes, hospedagem, segurança, pessoal de apoio, entre outros. Os memorandos são assinados pela servidora Ana Gabrielle Rodrigues de Santigo, do setor de Planejamento de Contratação, da Secretaria de Administração, onde estão concentrados todos os processos de contratação do Cidade Junina 2022.


O primeiro memorando, expedido no dia 19 de abril de 2022, sob o número 14/2022, tem o valor total de R$ 12.638.699,59 (doze milhões, seiscentos e trinta e oito mil, seiscentos e noventa e nove reais e cinquenta e nove centavos), distribuídos em cinco lotes e da seguinte forma e valores:




O segundo memorando, expedido pelo Planejamento de Contratação no dia 20 de abril, sob o número 15/2022, tem valor total de R$ 11.507.728,00 (onze milhões, quinhentos e sete mil, setecentos e vinte e oito reais), distribuídos também em cinco lotes com os seguintes valores:




A soma das duas cotações chega a R$ 24.146.427,59 (vinte e quatro milhões, cento e quarenta e seis mil, quatrocentos e vinte e sete reais e cinquenta e nove centavos).


Esses valores de cotação certamente cairão no pregão,não sendo possível prevê o valor final das contratações. No entanto, para um município que enfrenta calamidade financeira, conforme decretado pelo prefeito Allyson e que ainda enfrenta os desafios de uma pandemia, parece que a realidade é outra.


As 22 atrações musicais do Mossoró Cidade Junina, divulgadas oficialmente, vão custar R$ 3.670.000,00 (três milhões, seiscentos e setenta mil reais). Os valores de cada atração foram publicados no Jornal Oficial do Município (JOM) que está no ar desde quarta-feira, 20.


Três contratos chamam a atenção pelos altos valores. Os cantores de forró Wesley Safadão e Xand Aviões, juntos, vão levar R$ 1 milhão, sendo R$ 600 mil do Safadão e R$ 400 mil de Aviões. Já o cantor baiano Bell Marques, atração do Pingo da Mei Dia, receberá cachês de R$ 300 mil.


Na sequência do ranking dos mais caros vem a dupla Matheus e Kauan com R$ 280 mil; o cantor pernambucano Alceu Valença, R$ 220 mil; a banda caraubense Saia Rodada, R$ 220 mil; cantor Nattan, R$ 200 mil; a banda Parangolé, R$ 170 mil, entre outros.


Esses custos somam apenas as atrações consideradas nacionais, pois a Prefeitura ainda não divulgou os cachês dos cantores, cantoras e bandas locais que se apresentarão nos palcos da Estação das Artes Elizeu Ventania e na Cidadela Junina e palco do espetáculo Chuva de Bala no País de Mossoró.

 



Fonte Jornal de fato*

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