Jornal aponta que Orçamento secreto banca obra no RN que favorece ministro Rogério Marinho
Com informações do Estadão |
O
ministro do Desenvolvimento Regional, o potiguar Rogério Marinho, direcionou R$
1,4 milhão do orçamento secreto para a obra de um mirante turístico vizinho a
um terreno onde construirá um condomínio privado no município de Monte das
Gameleiras, no agreste do Rio Grande do Norte. A atração turística fica a cerca
de 300 metros da propriedade do ministro e favorece Marinho, conforme apontou
matéria exclusiva de capa do jornal Estadão.
O
investimento bancado com dinheiro público tende a valorizar o mais novo negócio
particular de Marinho, um condomínio de 100 casas num terreno de seis hectares
em sociedade com Francisco Soares de Lima Júnior, seu assessor de confiança no
ministério. O empreendimento foi batizado de Condomínio Clube do Vinho.
Numa
audiência na Comissão de Trabalho, Administração e Serviços Públicos da Câmara,
a 8 de junho, Marinho negou a autoria dos pedidos e repasse de verbas. O
Estadão, entretanto, obteve por meio da Lei de Acesso à Informação duas
planilhas de execução orçamentária do Ministério do Turismo, pasta chefiada por
Gilson Machado, que confirmam que ele é o “autor” e o “agente político” da
indicação dos recursos.
À
época, o deputado Rogério Correia (PT-MG) indagou Marinho se ele tinha indicado
os recursos para a construção de um mirante próximo a um terreno que possuía,
informação que circulava nos bastidores da política no Rio Grande do Norte. O
ministro negou, demonstrando irritação. “O senhor está falando uma informação
que não é verdade. O senhor está mentindo em cima de uma ilação. Eu peço ao
senhor respeito para não trazer para cá ilações”, disse na ocasião. “Não fui eu
que solicitei, certo? Não fui eu que solicitei. Foi o deputado Beto Rosado
(Progressistas-RN)”, afirmou o ministro.
O
Estadão, contudo, obteve os documentos nos quais Rogério Marinho aparece como
solicitante dos repasses. Informado disso, o ministro admitiu ao jornal que
acionou o Ministério do Turismo, mas alegou que o fez a pedido do deputado
Rosado. O nome do parlamentar, no entanto, não aparece no documento relacionado
ao repasse da verba, apenas o de Marinho.
“Em
um evento no dia 4 de dezembro de 2020, no Rio Grande do Norte, o deputado
federal Beto Rosado perguntou ao ministro Rogério Marinho sobre a possibilidade
de encaminhar pleito para a construção de um mirante na cidade por meio das
ações orçamentárias do MDR”, destacou nota. “Após análise pela Assessoria
Especial de Relações Institucionais (AESPRI) do MDR, constatou-se que o
empreendimento se enquadraria em ação orçamentária de competência do Ministério
do Turismo, tendo então o pleito sido encaminhado para a pasta, como é feito
rotineiramente.”
A
resposta enviada à reportagem não esclareceu por que o ministro negou na Câmara
ter feito a solicitação, tampouco explicou sobre a relação de sociedade entre Marinho
e Francisco Soares de Lima Júnior, um servidor comissionado que nomeou na
pasta.
O
dinheiro foi reservado para custear a obra pelo ministro do Turismo na
madrugada de 31 de dezembro de 2020, dez dias depois do pedido de Marinho. A
fonte foi emenda-geral de relator do Orçamento, as chamadas RP9, base do
orçamento secreto. O esquema revelado pelo Estadão foi montado pelo governo
Bolsonaro para permitir a um grupo de políticos manejar bilhões do Orçamento
sem que ninguém saiba de quem partiu a ordem. Segundo juristas, o mecanismo
fere a Constituição.
Aos
deputados, Marinho disse que possui o terreno em Monte das Gameleiras desde
2005. A propriedade apareceu pela primeira vez em suas declarações de bens
entregues à Justiça Eleitoral em 2010. O terreno havia sido avaliado em R$ 200
mil em 2018, dado mais recente.
Procurado
pelo Estadão, o deputado Beto Rosado referendou a versão de Marinho, seu aliado
político. Em meio à pandemia do coronavírus, ele disse ter procurado dois
ministros para colocar dinheiro na construção de um mirante. “Eu fiz
solicitação ao Gilson Machado (do Turismo) e ao Rogério Marinho, porque, como
ele é um conterrâneo meu, tem influência forte no governo, ajuda, mas saiu no
Ministério do Turismo”, disse. “Não tem meu nome porque não é emenda individual
minha, mas é uma indicação”, argumentou.
A
reportagem pediu ao deputado que forneça uma cópia do documento com que
formalizou a indicação. “Com muita boa-fé eu vou procurar e envio”, disse
Rosado. Até a conclusão desta edição, ele não enviou.
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