MP Eleitoral ingressa com ação contra governador por abuso de poder político e econômico
Robinson Faria ampliou irregularmente gastos em programas do governo e foi indevidamente beneficiado por publicidade institucional antes e durante a campanha
Uma
ação de investigação judicial eleitoral (Aije) foi impetrada pelo Ministério
Público Eleitoral contra o governador do Rio Grande do Norte, Robinson Mesquita
de Faria; seu candidato a vice na última eleição, Sebastião Filgueira do Couto;
o prefeito de Santo Antônio, Josimar Custódio Ferreira, e mais quatro
integrantes e ex-integrantes da gestão de Robinson Faria.
Eles
deverão responder por abuso de poder político e econômico, a partir de
irregularidades que foram alvo de ações eleitorais anteriores, como o uso
promocional de programas sociais - “restaurante popular”, “café do trabalhador”
e “sopa cidadã” - e a doação de duas ambulâncias no município de Santo Antônio.
Também
são temas da Aije as propagandas do governo em outdoors no anel viário do
aeroporto de São Gonçalo, assim como a inauguração de leitos de UTI no Hospital
Regional de Currais Novos (embora ainda não estivessem em funcionamento), a
veiculação de publicidade institucional do Detran e finalmente os gastos
elevados com publicidade institucional em pleno ano eleitoral.
Além
dos candidatos e do prefeito, são alvos da ação ainda o secretário estadual de
Trabalho, Habitação e Assistência Social (Sethas), Francisco Vagner Gutemberg
de Araújo; o assessor de Comunicação do Governo do RN, Pedro Ratts de Ratis; o
ex-secretário de Saúde Pedro de Oliveira Cavalcanti Filho; e sua esposa e
possível assessora da Secretaria de Saúde, Ana Valéria Barbalho Cavalcanti. Os
sete podem ser submetidos à pena de inelegibilidade pelo prazo de oito anos.
“Todas
essas ações e procedimentos preparatórios eleitorais evidenciam, de forma
inconteste, o uso indevido de programas sociais, órgãos e bens públicos pelo
investigado em benefício de sua candidatura à reeleição”, resume a procuradora
regional eleitoral, Cibele Benevides, autora da Aije.
Ilícitos -
Em relação aos programas sociais, foi constatada uma ampliação incomum não só
dos investimentos, em pleno ano eleitoral, como também o uso publicitário das
ações envolvendo tais programas, sobretudo a inauguração dos chamados
restaurantes populares. Informações da própria Sethas apontaram que, em 2018,
foram inauguradas 41 novas unidades desses restaurantes (e outros 20 em fase
implantação). Em 2017 foram somente 18, em 2016 apenas dois e, em 2015, nenhum.
Isso
tudo apesar de o cenário de crise ter se acentuado desde 2014 e sempre com
ampla divulgação nas redes sociais do governo e do próprio Robinson Faria. Já
no que diz respeito às ambulâncias, o então secretário de Saúde Pedro
Cavalcanti e sua esposa, Ana Valéria Cavalcanti, estiveram em Santo Antônio em
25 de agosto, já dentro do período de campanha, para realizar a doação de dois
desses veículos, promovendo a candidatura do chefe do executivo estadual.
Nas
imagens da solenidade, o prefeito Josimar Custódio usa camisa da cor da
campanha do governador e faz com as mãos, junto dos demais presentes, o número
55, exatamente o do candidato. “(...) não se tratou de um simples ato
institucional ou regular de governo, mas foi realizada em circunstâncias de
exaltação e favorecimento à então candidatura do governador”, destaca o MP. Em
postagens na sua rede social, Valéria utilizou a hashtag #todoscomrobinson55.
De
forma semelhante, o governador inaugurou leitos de UTI no Hospital Mariano
Coelho, em Currais Novos, embora o serviço não estivesse em funcionamento.
Houve divulgação no site do governo, com repercussão nos perfis do instagram e
facebook, fazendo uso promocional do evento em prol do chefe do Executivo. Para
o MP, a atitude evidencia “a má-fé do investigado, mas também a promoção
indevida de sua candidatura, por meio de divulgação de falsa propaganda”.
Outdoors -
Outro ponto da Aije trata da fixação de nove outdoors no anel viário que leva
ao aeroporto de São Gonçalo do Amarante, com intenção promocional e já em
período vedado. A inauguração do anel viário ocorreu em 4 de julho, porém os
outdoors permaneceram após 7 de julho, quando não seriam mais legalmente
aceitos. Ressaltando o que seria a “maior obra viária da história do RN” ou a
“obra do século”, os outdoors – na avaliação do MP Eleitoral – tinham o
“inevitável efeito de promover pessoalmente o candidato às custas de recursos
públicos”.
Somado
aos demais fatos, o governador ainda veiculou publicidade institucional em
período vedado, por meio do Departamento de Trânsito e utilizando televisão,
rádio e outdoor eletrônico. Robinson chegou a ser condenado ao pagamento de
multa pela justiça eleitoral. Além disso, houve um elevado uso de recursos
financeiros em publicidade por parte do estado, “a despeito de atualmente
encontrar-se em grave crise econômica e financeira, inclusive com atraso nos
pagamentos dos salários e 13ª salário dos servidores estaduais”.
Foram
destinados R$ 5,4 milhões em publicidade institucional somente no primeiro
semestre de 2018. “Ou seja, mesmo inserido num contexto calamitoso, em
segurança, saúde e funcionalismo público, o Governo do Estado do Rio Grande do
Norte, presidido pelo investigado Robinson Faria, optou por gastar milhões de
reais com publicidade institucional, não somente de forma contrária à
legislação eleitoral, mas também com claro intento promocional em favor da sua
candidatura”.
A
Aije foi protocolada sob o número 0601608-90.2018.6.20.0000, confira a íntegra.