quarta-feira, junho 19, 2019
Senadores querem acesso às mensagens trocadas por Moro e Dallagnol
Fonte; https://www12.senado.leg.br
Como foram vazadas as supostas
conversas privadas entre procuradores da força-tarefa da operação Lava Jato em
Curitiba e o então juiz Sergio Moro, atual ministro da Justiça? Seriam elas
autênticas? Essas foram algumas das questões centrais da manhã da audiência
pública com o ministro na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ),
nesta quarta-feira (19). Alguns senadores querem ter acesso às mensagens
trocadas pelo aplicativo Telegram para compará-las com os trechos vazados pelo
site The Intercept Brasil.
O senador Angelo Coronel (PSD-BA)
perguntou se Moro autorizaria o Telegram a fornecer as mensagens armazenadas na
íntegra e recomendou que o ministro aconselhe o procurador Deltan Dallagnol a
entregar o celular para perícia.
— O senhor autoriza o Telegram a
fornecer dos seus arquivos que ficam na nuvem, o conteúdo das mensagens que o
senhor trocou com os procuradores? Ou então o senhor também não poderia, já que
o senhor se dá bem com o Deltan Dallagnol, solicitar que ele entregasse o
celular dele para vistoriar? Aí acabaria essa sensação, acabaria esse
sangramento — indagou o parlamentar.
Moro relatou ter sido usuário do
aplicativo de troca de mensagens Telegram, mas disse que essas mensagens não
existem porque ele saiu do aplicativo em 2017.
— Eu saí do Telegram em 2017. Essas
mensagens não ficam na nuvem. Eu saindo do aplicativo, essas mensagens foram
excluídas. Se tivesse esse material, o hacker já teria apresentado.
Se tivesse isso no Telegram, o hacker teria obtido essas informações
— disse.
Coronel reafirmou que os diálogos
estão na nuvem e sugeriu que a sessão fosse interrompida até que o serviço de
mensagens instantâneas liberasse a íntegra das conversas, pedido negado pela
presidente da CCJ, Simone Tebet (MDB-MS), que ressaltou que outros senadores
queriam fazer perguntas ao ministro.
Clonagem
Durante o debate, Moro afirmou que
teve o celular clonado no dia 4 de junho, cinco dias antes da publicação da
primeira reportagem sobre os diálogos, mas, segundo o ministro, não conseguiram
acessar o conteúdo. Ele disse já ter entregue o celular para a Polícia Federal
periciar.
— Apesar do que foi dito aqui, não
existe mais esse conteúdo. Pode-se informar lá, tecnicamente, que quando se
eliminam as mensagens do aparelho celular ou quando se desativa, também se
elimina na nuvem. E mais ilustrativo é o fato de que o hacker não
publicou mensagens minhas trocadas com outra pessoa que não o procurador, se é
que essas mensagens são de fato autênticas, porque o meu celular não foi de
fato hackeado – disse.
Para ele, a invasão hacker tem
o objetivo de desestabilizar as operações de combate à corrupção, e é fruto do
trabalho de um grupo criminoso e que não se sabe ainda o alcance dos ataques
feitos pelos hackers sobre “as conquistas institucionais obtidas nos últimos
anos”. Ele contestou a autenticidade das mensagens publicadas pelo site The
Intercept Brasil, mas confirmou que "algumas coisas" podem ter sido
ditas por ele nas conversas com o procurador Deltan Dallagnol, chefe da
força-tarefa da Operação Lava Jato, e outros procuradores. O ministro ainda
criticou o site por não apresentar todo o conteúdo das mensagens recebido e
classificou as reportagens como “sensacionalistas”.
— Esse veículo diz lá que tem um
grande escândalo, grandes ilícitos, o que ainda está carente de demonstração,
mas não teve a dignidade de apresentar perante uma autoridade independente. Se
eventualmente não quer apresentar para a Polícia Federal, apresente para o
Supremo Tribunal Federal, para que aquilo possa ser examinado na sua inteireza
e verificado se, de fato, aquilo tem uma autenticidade — criticou.
Repercussão
Humberto Costa (PT-PE) reforçou o
pedido para que Moro solicite a Dallagnol, que entregue o celular dele para
conferência da PF, e disse que as mensagens vazadas evidenciam que Moro feriu a
conduta de magistrado ao interferir na Lava Jato. Para o senador, Moro deveria
pedir demissão.
— Não cabe uma pessoa com acusações
graves como essas ser chefe da Polícia Federal — defendeu.
Para o senador Marcos Rogério
(DEM-RO), a discussão central deveria ser o ataque a celulares de autoridades,
que ele classificou como ciberataque ou ciberterrorismo. Ele apontou que não há
nada de comprometedor nas mensagens divulgadas até agora, mas que pode ser uma
oportunidade para estabelecer limites na comunicação entre juízes e
procuradores e juízes e advogados.
— Mas usar isso para atacar a Lava
Jato é um erro, um erro político e um erro de análise - disse o senador.
Moro afirmou que não se sabe ainda o
alcance dos ataques feitos pelos hackers, mas ressaltou que podem afetar
"as conquistas institucionais obtidas nos últimos anos".
Esperidião Amin (PP-SC) avaliou que
existe hoje uma guerra cibernética no Brasil, o que exige providências do
governo e do Congresso. Para Marcio Bittar (MDB-AC), o crime que deveria ser
discutido é o da invasão a celulares das autoridades. Na visão do senador, a
divulgação das mensagens tem como objetivo criar uma revanche contra as
operações anticorrupção realizadas no Brasil. Opinião compartilhada por Arolde
de Oliveira (PSD-RJ):
— Este crime de hackers é
uma reação de tentar reverter o processo que desagradou a tantos. Uma mudança
que foi não só a Lava Jato, mas que também mudou o governo do país.
Tasso Jereissati (PSDB-CE) disse que
não se pode embarcar em teorias da conspiração, mas que é preciso ajudar a
esclarecer para que a população brasileira o que representam essas gravações.